Porto de Salvador funciona aquém da capacidade

Um dos principais portões de entrada do turismo na capital baiana, por onde passa uma média anual de 200 mil turistas, o Porto de Salvador está funcionando aquém da capacidade.

No prédio novo do Terminal Marítimo de Passageiros, apenas o térreo serve ao embarque e desembarque de cruzeiristas. Para os outros dois níveis, está previsto um projeto de integração porto-cidade, mas o empreendimento tem um ano de atraso.

Apesar da estrutura física do prédio ter sido concluída – também com atraso -, os dois níveis superiores dependem de uma concessão que será feita por meio de arrendamento, de acordo com o presidente da Companhia das Docas do Estado (Codeba), José Rebouças.

A proposta vencedora será aquela que tiver menor preço e melhor projeto de ocupação que vise integrar o porto à cidade. A aposta é ajudar na revitalização do bairro do Comércio, antiga reivindicação do trade turístico.

No entanto, a temporada de cruzeiros é sazonal, ocorre de novembro a março em Salvador. Nos outros meses, a intenção é que o equipamento permaneça em funcionamento e atraia não só turistas como soteropolitanos.

“O terminal de passageiros está completo. Para o empreendimento, falta a parte final de arrendamento. É o projeto que vai tirar o porto daquela velha história de que ele sempre estava de costas para a cidade. Pode ser um restaurante, centro de convenções, área de cultura”, ressaltou.

Nova estimativa

A previsão era que, em dezembro de 2013, o empreendimento já estivesse funcionando plenamente, mas a nova estimativa é que só em junho próximo ocorra a concessão. Todo o prédio foi construído com investimento de R$ 40 milhões, com recursos do PAC da Copa.

A estrutura agradou turistas ouvidos por A TARDE, mas há reclamações relacionadas à ausência de restaurantes e espaços de lazer e suporte para quem visita a capital. O casal Tairone Coutos, 33, e Paula Pimentel, 25, levou a família de Utinga e Andaraí para ver os dois partirem em um cruzeiro, mas o plano foi frustrado. “Não deixaram. Disseram que eles não poderiam entrar porque toda a estrutura não está pronta”, contou Coutos. “Aqui está um galpão. É bonito, mas falta estrutura. Chegamos pela manhã, e o navio pode sair somente às 16h. Não tem nem restaurante”, acrescentou Paula.

Polêmica

Secretário estadual de Turismo, Pedro Galvão disse que ainda não considera o terminal “um bom cartão de turismo” e que a estrutura incompleta não passa boa impressão. “Pode ser um bom cartão, se o poder público tivesse uma segurança melhor e ampliasse a visibilidade (da Baía de Todos-os-Santos), tirasse os tapumes da obra que não foi totalmente entregue”, afirmou o secretário.

“O turista leva a impressão para casa. Ela é necessária para que ele retorne, mas o que temos ainda não dá boa impressão. Está caminhando para isso”, acrescentou Galvão.

Rebouças não concorda e afirmou que o terminal de passageiros funciona “de forma satisfatória”. “Não vou contrariar o secretário, mas não posso concordar. Precisava saber que tipo de impressão é que ele contabiliza como boa porque, se o passageiro chega, tem um equipamento desses, sai do navio e entra na cidade, a impressão é do navio ou da cidade?”, questionou.

Para o presidente da Associação Brasileira de Viagens (Abav-BA), José Alves, é preciso tornar o porto mais atrativo: “Tem que ser transformado em local de convivência. O ideal seria a retirada da parte das cargas. Em Miami e Barcelona é assim. Embarque e desembarque com bares, restaurantes e escritórios”.

Ex-secretário municipal de Cultura e atual de Educação, Guilherme Bellintani disse que “cabe muita discussão em torno do porto”: “É preciso que se abra para a cidade, dentro das possibilidades mais imediatas e que, aos poucos, identifique formas possíveis de migração do porto ou de parte dele para outras regiões da baía. Faz muita falta esse acesso ao mar”.

Licitação para arrendamento não tem data prevista

O atraso na concessão do terminal ocorreu, segundo o presidente da Codeba, José Rebouças, por demora na análise do processo de arrendamento. No entanto, ainda não há data definida para a licitação ser lançada.

“O Tribunal de Contas da União (TCU) demorou de analisar. Tiramos o terminal do mesmo processo das cargas e conseguimos fazer a audiência pública. O edital vai voltar para o TCU analisar e vamos lançar. Houve esse lapso de tempo, de cerca de um ano, mas tudo se recupera na vida”, destacou.

A assessoria do TCU informou que “nenhum atraso pode ser imputado ao órgão”.

Impressão

Ao chegar de Santos (SP) em um cruzeiro, o advogado Rafael Silverstrine, 30, elogiou o prédio espelhado. “A impressão é boa. Ficou um local muito bonito”, frisou.

A guia de turismo Andréia Araújo, 43, destacou que houve melhora, mas criticou estrutura oferecida aos turistas. “Na comparação com o passado, melhorou, mas não é oferecido muito para o turista. É um dos portos mais caros e não há retorno”, disse.

Diretor da Associação Comercial da Bahia, Carlos Coim considerou a estrutura “de bom padrão”. “Isso se a gente comparar com o nada que tínhamos antes: uma pequena sala. É um equipamento que está resgatando a Baía de Todos-os-Santos para o turista e os moradores”.

Titular da Diretoria do Centro Antigo de Salvador (Dircas/Conder), Beatriz Lima disse que o novo terminal contribui para a revitalização, mas é “o conjunto de ações que dá resultado”.

“Há um plano de reabilitação do Centro Antigo que a gente está tocando desde meados de 2013. Em janeiro, vamos assinar ordem de serviço para recuperar ruas e calçadas do Centro, incluindo o Comércio”, finalizou.