HIDROVIAS SEGUEM EM BANHO-MARIA

Na semana que passou, o secretário estadual dos Transportes e Mobilidade, Pedro Westphalen, foi elogiado publicamente pelo presidente do Terminal de Conteineres do Porto de Rio Grande, Paulo Bertinelli. “É a primeira vez que vejo um secretário com conhecimento de causa sobre a infraestrutura de logística e, particularmente, sobre as hidrovias gaúchas”, disse Bertinetti, que está há 18 anos no comando do Tecon riograndino e foi um dos dez palestrantes do 3º Fórum de Infraestrutura e Logística promovido pela Câmara de Comércio Brasil-Alemanha em Porto Alegre na quinta-feira (25/6).

Em sua palestra de 25 minutos, o médico Pedro Westphalen, deputado estadual (PP) por Cruz Alta, declarou-se a favor de parcerias público-privadas para recuperar e potencializar a infraestrutura viária do Rio Grande do Sul, pois o governo estadual não tem condições financeiras de bancar obras novas ou reformas de estradas e pontes construídas na época em que o limite das cargas de caminhão era de 10 toneladas. “Agora são comuns os bitrens para 60, 70 toneladas”, disse ele para uma platéia de uma centena de especialistas em logística.

Westphalen revelou, por exemplo, que o DAER está tão mal de equipamentos que, para fazer rodar um caminhão – os últimos foram comprados em 1984 –, é preciso tirar peças de outro. Já a EGR, criada recentemente, também não tem condições de “atender adequadamente os usuários das rodovias que explora”, admitiu o secretário, sem porém sugerir qualquer iniciativa privatizante ou anunciar algum projeto do setor privado no sentido de compensar a ineficiência estatal.

Para ilustrar o retrocesso dos serviços de transporte de passageiros e cargas, Westphalen lembrou que na infância ia para o Rio em aviões DC-3 da Varig que partiam de Cruz Alta e de outras cidades do interior, como Santa Maria e Passo Fundo. Reconheceu que o governo está se esforçando para reativar aeroportos municipais, mas faltam recursos. Além disso, o transporte rodoviário de cargas e passageiros é muito forte.

Para Westphalen, que se declarou apaixonado pelas hidrovias gaúchas, o Rio Grande do Sul está perdendo capacidade competitiva ao negligenciar a recuperação do sistema hidroviário estadual. “Nossas hidrovias não são confiáveis, falta uma dragagem permanente, e existem dificuldades para licenças ambientais, isso acaba afastando o investidor e as pessoas”, disse.

Paulo Bertinetti, que falou logo após o secretário, afirmou que a intensificação do transporte hidroviário entre Rio Grande, Porto Alegre, Estrela e Triunfo – os quatro pólos com maior potencial de cargas – depende de poucos investimentos em sinalização e dragagem que se pagariam em pouco tempo. “Mas cabe ao Estado fazer a sua parte”, enfatizou, lembrando que assim seria possível navegar à noite transportando maiores volumes. “A hidrovia não tem pedágio nem balança”, arrematou, deixando claro aos presentes que o transporte por água no Rio Grande do Sul continua em banho-maria, alimentando um autêntico diálogo de surdos.