Cabotagem puxa crescimento do Tecon Salvador

 

O crescimento de 12% na movimentação de cabotagem e de 5% no longo curso, registrados no primeiro semestre, reforçam os argumentos do Tecon Salvador sobre a necessidade da antecipação da renovação da concessão em troca de um investimento de R$ 537 milhões. Atualmente, o terminal consegue receber dois navios ao mesmo tempo. Com a expansão, seria possível trabalhar com três embarcações simultaneamente. Ele movimentou, na cabotagem, 24 mil TEUs (contêineres de 20 pés) no primeiro semestre, contra 21,4 mil no mesmo período de 2014.

 

Controlado pela Wilson Sons, o terminal já recebeu a aprovação da Companhia das Docas da Bahia (Codeba) para a antecipação da renovação. O pedido agora está sendo analisado pela Secretaria de Portos. Caso receba o sinal verde, o processo segue para a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).


O Tecon já passou por uma expansão iniciada em 2010 e concluída em dois anos, com investimento de R$ 180 milhões. Da área original da concessão, assumida em março de 2000, de 74 mil metros quadrados e capacidade para movimentar 250 mil TEUs por ano, o terminal passou a operar em uma área de 118 m2 e capacidade para movimentar até 530 mil TEUs/ano. Essa expansão não exigiu nenhum aditivo ao contrato inicial, já que o tempo que ainda havia de concessão, que termina em 2025, foi considerado suficiente para amortizar os investimentos.


O plano atual divide a nova expansão em duas partes. A primeira prevê uma ampliação do cais que recebe os navios de longo curso, com mais 423 metros, contínuo ao atual de 377 metros. A segunda fase inclui um aterro e a possibilidade de ampliação da retroárea. E é para amortecer este investimento que a empresa pede a renovação antecipada da concessão por mais 25 anos, prorrogando o atual contrato até 2050.


O crescimento de dois dígitos da cabotagem só é possível porque o modal atrai carga já existente


"É uma adequação aos tamanhos dos navios", sintetiza Demir Lourenço Júnior, diretor executivo do Tecon Salvador. Há 30 anos no grupo Wilson Sons, Lourenço afirma que o aumento no tamanho dos navios de longo curso é um processo natural no setor em busca de produtividade. Na medida que os armadores colocam em operação navios cada vez maiores nas principais rotas mundiais -principalmente ligando a China aos Estados Unidos -, as embarcações que faziam essas rotas são deslocadas para atender o comércio de países como o Brasil. E isso obriga os terminais nos portos brasileiros a acompanharem esse movimento. A mesma busca por produtividade existe na cabotagem e há um aumento também no tamanho das embarcações que percorrem a costa brasileira.


Lourenço conta que o crescimento de dois dígitos da cabotagem, em um período de desaquecimento da economia, é possível porque o modal atrai carga já existente. "O que ocorre é um deslocamento da carga rodoviária para a cabotagem." Nesse segmento, o Tecon Salvador se beneficiou dos parques eólicos que estão sendo construídos no interior da Bahia. Apesar do terminal ser de contêineres, ele pode movimentar carga geral. Pelo porto entraram pás e nacelles (parte da turbina) destinados aos projetos de geração elétrica. A expectativa é o que o mesmo aconteça com os futuros parques de geração solar que podem ser instalados na Bahia.


No longo curso, o crescimento de 5% teve como base a ampliação da carga geral que passou a usar o contêiner no comércio exterior. Ao minério de ferro e produtos agrícolas (principalmente soja, café e algodão), se juntam areia e sal transportados em contêineres. "Fechamos o primeiro semestre com 66% da nossa movimentação no longo curso e 34% na cabotagem. Acredito que, no futuro próximo, esse perfil seja de 60% no longo curso e 40% na cabotagem", prevê o executivo. O terminal movimentou, no longo curso, 71,1 mil TEUs no primeiro semestre, contra 67,7 mil nos primeiros seis meses do ano passado.


Para viabilizar o investimento de R$ 537 milhões previsto na renovação antecipada, a Wilson Sons deve buscar recursos no exterior e não usar as linhas do BNDES. O Banco Mundial, parceiro no financiamento da primeira expansão em 2010, deve ser a primeira opção. Segundo Lourenço, 70% do projeto deve ser financiado com empréstimos e 30% com recursos próprios. Como boa parte dos equipamentos tem de ser importada, fica muito difícil atender os requisitos de conteúdo local mínimo exigido para obter recursos junto ao BNDES.