Cabotagem cresce em média 20% ao ano

O transporte de mercadorias por via marítima pela costa brasileira vem conquistando cada vez mais adeptos. Nos dois últimos anos, o setor de cabotagem tem apresentado taxas médias de 20% de crescimento, principalmente no carregamento de contêineres com produtos que até então vinham sendo transportados majoritariamente pelo sistema rodoviário.

Voltado durante décadas ao transporte de granéis líquidos e sólidos, o modal tornou-se uma alternativa mais atrativa após a modernização de alguns dos principais portos e da regulamentação do setor rodoviário, em especial a Lei do Caminhoneiro, que estabeleceu a carga horária do motorista em 12 horas de trabalho e cinco horas e meia para descanso, pondo fim a jornadas exaustivas, que resultavam em fretes desproporcionais em relação à cabotagem.

De acordo com pesquisa exclusiva feita pelo Instituto Ilos junto a 123 profissionais de logística de algumas das cem maiores companhias do setor industrial e varejista, a cabotagem recebeu nota 7,3 de aprovação. A pesquisa apontou que grande parte das empresas (61%) pretendem aumentar o volume por cabotagem, em média, em 45%. Apenas 6% das empresas demonstraram intenção de reduzir seus carregamentos. Segundo Monica Barros, gerente de inteligência de mercado do Ilos, a diferença no frete entre a cabotagem de porta-a-porta (de um centro de distribuição a outro) em um trajeto longo, como entre o porto de Santos e Manaus, pode chegar a 50% comparada ao transporte rodoviário. “Mas a empresa precisa readequar seus processos logísticos e agir com mais planejamento”, afirma.

De acordo com a pesquisa, as principais insatisfações estão mais ligadas à infraestrutura do que ao modal em si. As maiores queixas dos usuários foram infraestrutura inadequada dos portos (66%), excesso de burocracia governamental (63%), demora na entrega da carga (62%) e falta de infraestrutura na integração dos modais (61%). “Com relação à cabotagem, a principal reclamação é a baixa frequência de navios, sempre tendo como base comparativa o transporte rodoviário”, afirma Barros.

Apenas três companhias atuam no setor de cabotagem no Brasil – Aliança, Mercosul Line e Log-In. Segundo Cleber Lucas, presidente da Abac (Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem) e diretor da Log-In, o setor atende cerca de 1.500 empresas, das quais 800 realizam embarques com regularidade. “Setores como eletroeletrônicos, higiene e limpeza e produtos químicos cresceram nos últimos anos”, afirma.

Apesar de serem apenas três companhias, diz Lucas, não há um número consolidado quanto ao volume transportado. No segundo trimestre, diz, a Log-In transportou 31,9 mil Teus (contêiner de 20 pés, equivalente a 27 toneladas), o que representou crescimento de 17,1% ante igual período do ano passado.

Para que seja economicamente viável, o recomendado é que a empresa usuária da cabotagem tenha sua unidade de produção (ou centro de distribuição) a uma distância de até 300 km do porto. Com cerca de 7.400 quilômetros de costa e 80% da população vivendo em um raio de 200 quilômetros do litoral, a cabotagem ganha mais espaço na medida em que as empresas ampliam seus canais de distribuição em outros Estados.