“A casa está caindo e não é possível que ninguém perceba isso”

Um desabafo que serve de alerta para a Secretaria Especial de Portos e para o governo da Bahia. Assim podemos resumir a entrevis­ta concedida pelo atual presidente do Sindicato dos Trabalhadores nos Serviços Portuários da Bahia (Suport), Ulisses Souza Oliveira Júnior, ao PortoGente. Ele é mais um sindicalista a questionar a demora por parte do Gover­no Federal na escolha do novo presidente da Codeba, estatal responsável pelos portos de Salvador, Aratu e Ilhéus. E a situação parece piorar a cada dia, como provam alguns números divulgados na semana passada.De acordo com informações divulgadas pela Associação dos Usuários dos Portos da Bahia (Usuport), a partir do relatório de estatística portuária editado pela própria Codeba, os portos públicos da Bahia apresentaram movimentação de carga de quase 500 mil toneladas em janeiro de 2009, o que representou uma queda de 37,7% em relação a janeiro de 2008. Só no Porto de Salvador, foi constatado o tombo foi de 30% na movimentação. Coincidência ou não, em 2008 a Codeba dispunha de um presidente efetivo no cargo. Hoje, um interino tenta apagar o incêndio.

Ainda em Salvador, as cargas conteinerizadas foram reduzidas em quase 32% na comparação entre janeiro de 2008 e janeiro de 2009. As escalas de navios porta-contêiner diminuíram de 49 para 42, queda de 14,3%. Já em Aratu, a passagem de cargas foi de 325 mil toneladas, o que representou um sumiço de mercadorias da ordem de 37,6%, impulsionado pelas variações negativas dos granéis sólidos, líquidos e gasosos. Ilhéus, por sua vez, com apenas 1.323 toneladas, apresentou um tombo de 97% no total da movimentação de mercado­rias gerais.

“A gente ouve muitas expli­cações, uma quantidade ainda maior de boatos e essa disputa política é uma aberração, uma irresponsabilidade sem tamanho. Os portos da Bahia estão num mundo de faz de conta e a casa está caindo. Não é possível que ninguém perceba isso no Governo do Estado, na SEP, em algum lugar. E isso é muito ruim para o trabalha­dor portuário, seja ele avulso ou não. Para o pessoal da Codeba é ruim também. Você não sabe quem será seu chefe ama­nhã. Foram oito presidentes em sete anos. Que empresa vive assim?”, indaga Ulisses.

Em dezembro, o primeiro a abandonar o barco chamado Codeba foi o então diretor-presidente da Companhia Docas, Marco Antônio Rocha Medeiros. Em seu lugar, entrou Newton Ferreira Dias, comandante interino pela segunda vez e, ao mesmo tempo, diretor de Gestão Administrativa e Financeira. Agora, quem sai das Docas é o diretor Co­mercial e de Desenvolvimen­to, Marcelo da Gama Lobo. O substituto é Renato Neves da Rocha Filho, que assim como Newton Dias, fará jornada dupla nos próximos dias. Rocha Filho já é diretor de Infraestrutura e Gestão Portuária.

“Estamos desde o final de 2008 sem presidente e um diretor acaba de deixar o cargo. O que podemos esperar para os portos da Bahia? Hoje, a Codeba sofre com várias ações trabalhis­tas e, por conta disso, existem bloqueios de suas contas. E com a queda de receita da Codeba, que não é culpa exclusiva da crise e reflete a sequência de más administrações que passa­ram por lá, os trabalhadores podem ficar sem salário a qualquer momento. Basta um bloqueio judicial e a Autoridade Portuária nãotem como fugir”, explica Ulisses Júnior.Em entrevista ao jornal A Tarde na sexta (6), o minis­tro dos Portos, Pedro Brito, preferiu não dar prazos para a indicação de um novo nome para a presidência da Codeba. Brito alegou dificul­dades técnicas para achar um técnico capaz de, em uma só tacada, equacionar todos os principais proble­mas administrativos da estatal.

Boatos indicam que duas correntes não estão em sintonia e, por causa disso, a Codeba pena há meses sem um diretor-presidente. A SEP estaria inclinada a indicar o atual presidente do Porto de Recife, Alexandre Catão, para a Docas da Bahia. Já o governador da Bahia, Jaques Wagner, tenta indicar o nome de Sérgio Gaudenzi, que ocupou a presidência da Infraero até discordar do programa de privatização de aeroportos rentáveis, como o Galeão (RJ) e o Viracopos (SP), no final de 2008.